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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

UMA NOITE DE SÁBADO

Bons dias aqueles, em que soltava papagaios e brindava o fim do dia com o café que minha saudosa mãe preparava todas as tardes.
Havia passarinhos de muitas espécies e de muitas côres, - que alguns mal avisados ainda tentavam capturar. Ruas de terra, como era bom...Andar descalço e poder contemplar a água da chuva, que corria festiva pelas beiradas sem guias daquelas ruas, perdidas no tempo!.E os vaga-lumes que enfeitavam as noites lindas de verão, hoje praticamente extintos nas grandes metrópoles.
O ar devia ser tão bom, - digo devia, pois hoje sei o que é sentir o pesado cheiro de gazes poluentes,misturados ao odor que sobe dos bueiros entupidos e sujos desta grande metrópole!. Mas imagine só se um menino em tenra idade como eu, iria se preocupar em saber se o ar era puro, - e é claro que era. Não me lembro de ter contraído nenhuma doença mais grave do que uma gripe ou resfriado, não havia rinites alérgicas, doenças respiratórias, viroses, dengue  e tantas outras doenças que hoje nos assustam, graças ao que fazemos com o meio ambiente em que vivemos.
Ainda a pouco fui ao supermercado, noite de sábado! Muita gente e um consumo que me fez verter uma lágrima tímida em meio à multidão que feliz e festiva, enchia seus carrinhos e aglomerava-se nos locais de doces, salgados, assados....Tudo uma grande festa!
Parei em frente aos “sonhos” e fiz menção de pedir um, mas vendo aquelas embalagens plásticas que a atendente “sem qualquer sentimento de culpa”, usava para atender aos consumidores, sendo que para cada quantidade, lá ia ela e apanhava uma embalagem brilhante e límpida para guardá-los, - Isto por tantas vezes que perdi o desejo de levá-los.(confesso que tive vontade, mas achei melhor não ter que, à custa de um prazer momentâneo e fugaz, abandonar aquela embalagem em meu cesto de recicláveis. Consegui dizer não e senti-me vitorioso, pelo menos naquela hora.
De volta para casa, cruzei bares em ritmo de festa, bebidas, petiscos, fumaça subindo aos céus, vinda das motos coloridas e carrões enormes dirigidos por pessoas apressadas e perdidas em meio à confusão de um sábado louco e descomedido.
Tenho a sensação, para não dizer “certeza”, que nós seres humanos chegamos ao limite considerado suportável, e que o nosso planeta está em vias de tomar as rédeas do processo que gera a vida e o amor.
Quantos de nós pereceremos pelas catástrofes que hão de vir, em qualquer hora destas, pois não se pode imaginar que uma terra que é sugada de seu sangue      - chamado petróleo - , de suas energias - chamadas florestas  e minérios - , de sua vida - chamada água -, possa ficar à mercê de nós, tão pequeninos! É de se esperar alguma reação, em pró de uma sequência cósmica que não pode ser revertida, em pró de tantas vidas que aqui vieram habitar, em pró do Amor!
Sinto saudades da minha infância, dos papagaios e das chuvas torrenciais que caiam e que faziam minha querida mãe acender ervas benzidas nos dias em que trovoes e raios despencavam em uma musicalidade linda, que eu adorava.
Hoje virou moda se falar em meio ambiente; Mas é estranho como, paralelamente a tudo isto, continuam os anúncios de cervejas com suas latinhas de alumínio, de carros cada vez mais velozes e modernos, de celulares de última moda, com suas baterias descartáveis, com empresas apelando para o  “falem à vontade”, e que se dane o mundo em que vivemos!  Estranho como uma minoria “em que eu me incluo”, recicla seu lixo, como se isto fosse a mais nobre ação do momento, e se esquece que não basta apenas reciclar,  - poderíamos evitar ao máximo o uso de tais produtos ou mesmo não usar! ..E do outro lado, a grande maioria, mais de 95% ainda consome desenfreadamente, joga seus restos aleatoriamente, como se esta ação diária fosse a coisa mais normal do mundo;  Estranho como os canais de comunicação que detém o poder sobre grande parte da população , continuam a veicular anúncios sobre refrigerantes e cervejas,com suas latinhas coloridas,produtos de consumo inúteis em caixinhas e potinhos descartáveis novos modelos de celulares, enfim... A ambição e a insensibilidade falam mais alto nestas horas.
....E neste exato instante em que escrevo sobre meio ambiente, e coisas que tais, sinto-me patético e um tanto quanto culpado também; Enquanto revejo minha infância, e vos falo de chuvas abundantes, de céus estrelados, de vaga-lumes e papagaios, de tardes quentes e alegres, cá estou eu a bebericar uma cerveja de “latinha”, teclando em meu  “computador” e tendo guardado um pequeno estoque de sacolinhas  de supermercados.
                                                                                                       jul.2006
                                                                                                                       

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