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quinta-feira, 19 de maio de 2011

Crônica de minha juventude

Ainda ontem brincava de ser adolescente e confesso que não sabia da existência de tais criaturas. Para mim que, aos vinte e seis ainda era um dos tais, recordo-me então de quando tinha quatorze, quinze ou sei lá, dezoito..
Graças a Deus, não havia a disseminação do sexo e das drogas com tanta fúria, ou pelo menos se havia, era em uma escala infinitamente menor, "se bem que eu estava em uma escala ainda menor que a da época"; Sem globalização e sem maiores diversões a não ser um bailinho ou um bom jogo de ping pong com a turma do colégio, ou aquela garota que sempre deixa marcas para sempre e com a qual sonhamos e com a qual sonhei inúmeras noites e bastava ficar frente a frente com ela, para corar e nada dizer.
A primeira moto, que foi quase que a primeira de todo o bairro e a sensação de ir pro colégio montado naquele cavalo voador com os cabelos longos embaraçados e a maneira com que todos paravam para observar quando chegava e quando ia embora.
Pergunto-me se os adolescentes são outros, e digo a mim mesmo que não, que são os mesmos, crianças perdidas em preconceitos e medos, dúvidas e anseios, mas que infelizmente tem que se tornar gente madura, pois o sistema assim o quer; Começam a se tornar adultos já na infância, com a entrada prematura na escola, com a obrigação de serem os melhores, com o trabalho a que são obrigados desde cedo para fazer jus aos chavões: “Responsabilidade!, não ficar na rua!, ter o seu próprio dinheiro!”.
Além disto, os cursos que são inventados a cada segundo e que faz com que as pobres criaturas mal tenham tempo para uma pelada no campinho, (hoje apenas na forma de quadras, com raras exceções, nas periferias distantes).E o que vemos são jovens saindo pelas noites em baladas alucinadas, com carros e motos aos milhares, com drogas que rolam à solta e com pais que quando não separados, mal tem tempo para olhar para eles ou mesmo dar-lhes um abraço.
Eu também faço parte desse grupo dos  separados e confesso que dificilmente vejo meus filhos e pelo andar da carruagem sei de antemão que já devem ter se iniciado no mundo de drogas e sexo.”E a tv continua sendo a alavanca de toda esta estupidez”, juntamente com a globalização Americana, mais as centenas de faculdades que apenas distribuem diplomas a pequenas crianças indefesas que seriam mais felizes empinando pipa, jogando ping pong ou ajudando suas mães nos afazeres domésticos.
Pobre do pai ou da mãe que não tiver conhecido uma droga qualquer em seu tempo, pois pensará sempre que seu filho não faz parte deste contexto. Pensamento equivocado, pois todos fazem parte, sem exceção.Os de classe pobre da periferia, Os de classe média de bairros centralizados e também os de classe rica e abastada, com seus casarões e apartamentos imensos, por razões as mais variadas, quer seja  pelo vazio desta existência, pela falta de amor de seus familiares, pelas amizades contraídas nos colégios, situação financeira, situação global, apelo da mídia, modismo, etc.“Enganam-se os que pensam que criminosos perigosos são crias apenas da periferia”.
Como isto é apenas um breve comentário, vou terminar dizendo que só aqui neste condomínio onde moro, existem dezenas de “mães crianças”, que deixam seus filhos com as avós para dar seqüência na brincadeira de ser adolescente, enquanto a TV vomita imagens de apelo criminoso que incentivam mais e mais ao crime e ao sexo sem fronteiras.
Ouvindo George Harrison, e tomando minha cerveja predileta, confesso que apesar de não ter tido consciência de minha adolescência, sinto saudades das noites felizes de ping pong e bailinhos, de minha velha motocicleta e de minha desaparecida namorada que adorava deixar a moto na garagem para andar pelas ruas de mãos dadas, em noites de lua cheia.
                                                                                           Abril 2005


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