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terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

O relógio



O relógio de parede anunciou 3  horas, com o velho passarinho de madeira, arrasado por cupins e pelo tempo, movendo-se lentamente portinhola afora, sem emitir, porém, o som típico dos cucos de madeira. Willian lembrou-se daquela manhã cinzenta na praça central da cidade, onde iria pedir em casamento aquela que seria mais tarde sua esposa. "Fazia frio, crianças agasalhadas brincavam pela grama ressecada, um velho senhor tocava uma gaita em dois ou três tons repetitivos, um balão vermelho e branco passou voando por ele, indo enroscar-se em uma árvore, de onde alguns passarinhos ensaiavam um tímido canto".
"Horas antes, tomara um banho, - ainda podia sentir o perfume do sabonete no ar - pusera o seu velho jeans já um tanto desbotado nos joelhos e na parte de trás, aquela camiseta estampando um desenho surreal, com silhuetas seminuas, arco-íris, pássaros com asas em forma de violões e seios e um rosto  maior com longas barbas e com a boca escancarada, de onde saiam notas musicais e flores".
Quanto tempo havia passado e agora, sentado na fila do meio, na cadeira do meio, no meio do cinema , enquanto aguardava o início do filme, tudo lhe veio à mente, tão nítido, tão calmas e reais as imagens, vagou os olhos para as poucas pessoas nas filas à sua frente, no momento em que a senhorita da segunda fila, à direita de um homem com ares de importante, óculos multifocais e um terno preto impecavelmente amassado, levantou-se e caminhou em direção à saída, olhando de soslaio para a grande tela empoeirada, de onde bailava o cuco, impávido e triste.
                                                            Fev.2013

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