Pitágoras acordou cedo como de costume e preparou seu desjejum, como fazia sempre, depois de haver defecado na horta de sua mãe, que cultivava couve, pimenta, hortelã e uma alface que ele sempre achara estranha, pela sua coloração um tanto amarelada; Hortência, sua mãe, lhe dizia que era uma alface vinda de outras terras, mas daí a acreditar que este era o motivo de sua cor era uma outra estória, até porque Pitágoras sabia o quanto de seu próprio estrume havia naquela terra.
Carregava dentro de si uma mágoa profunda de sua mãe,
por ter lhe colocado um nome que sempre lhe causara constrangimentos,
principalmente na escola, entre seus amiguinhos; Em uma pequena cidade do
interior, onde a pequena população mal sabia ler e escrever, um nome como
aquele causava muita estranheza em todos. – Pitágoras, meu filho, foi um
discípulo de Jesus, dizia Hortênsia, e nessas ocasiões ficava perturbada por
não se lembrar direito de onde tinha vindo tal idéia. Teria sido de seu marido?
‘Deus o tenha’, pensava Hortênsia. O pobre homem morrera cedo, um dia antes de
completar 38 anos. Naquela manhã Nicanor preparou a marmita que levaria para o
campo, era época da colheita do café e os patrões estavam esperançosos em
conseguir uma safra boa, ‘haveriam de conseguir comprar um trator novo e guardar
um dinheirinho no banco’, diziam entre si marido e mulher toda noite antes de
dormir. À tarde vieram avisar que Nicanor tinha sido picado por uma cascavel e
morrera. Teria o nome sido idéia dele? Tornou a pensar Hortênsia. Pitágoras por
sua vez não conseguia acreditar em sua mãe, pois nunca tinha escutado o Padre citar o seu nome
na missa, além de que, seu vizinho Benedito, o ‘Bentinho’ como o conheciam,
várias vezes havia lhe dito que aquilo não passava de invenção de sua mãe.’Hortênsia vive imaginando estória’,
dizia Bentinho.
E naquela tarde
tudo ocorrera rápido demais. – Pitágoras! Ouviu sua mãe chamar e quando entrou
em casa, encontrou-a caída no chão da cozinha. No fogão uma panela de pressão
chiava e exalava um cheiro de feijão com
toicinho, o velho gato amarelo olhou para ele quando entrou, se esticou todo
e voltou a dormir, ao longe se ouvia o
cacarejar das galinhas e no abacateiro
dos fundos do quintal um pássaro com penugem amarelada, emitia leves
trinados. Sua mãe era hipertensa, mas Dr. Timóteo, o médico da
vila, receitava-lhe sempre pírulas para dormir, achando que era um problema de
nervos ou mais um caso de velhice mal
aceita. “Quem sabe os dois”, dizia o doutor para sua mãe, nas vezes que vinha
visitá-la. Dr. Timóteo não era muito velho, mas já tinha os cabelos ralos e uma
cabeça pequena em comparação com o seu corpo gordo e pesado. Usava um chapéu de
palha, que deixava seu grande nariz realçado no meio de um rosto rosado e com
rugas abaixo dos olhos. Usava óculos quando queria ler alguma coisa, fumava um
cachimbo que Pitágoras achava fedorento e sempre acabava ficando para o almoço.
Hortência veio a falecer no mesmo dia, deixando-o
órfão, com as parcas economias dela, que representavam privações e sacrifícios,
muita fadiga e trabalho.As pessoas diziam, ‘pobre Pitágoras, Coitado do
Pitágoras’, ‘O que fazer com Pitágoras?’ E Pitágoras, assim que se acabou o
pouco que deixara sua mãe, teve que se virar com os dízimos dos vizinhos, que matemática
alguma explica como conseguiu.
Dr. Timóteo segue ainda medicando laxantes, pírulas e ventosas. Seu diploma já amarelado permanece na parece mofada de sua casa vazia e sem vida
Dr. Timóteo segue ainda medicando laxantes, pírulas e ventosas. Seu diploma já amarelado permanece na parece mofada de sua casa vazia e sem vida
Agosto.2009
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